“Esteve
o Monarca até o dia 28 em Porto Alegre, dia em que seguiu para a cidade do Rio
Pardo, em cujo trajeto entretinha-se em desenhar diferentes vistas com aquela
mesma habilidade e perícia com que traduziria a Ilíada de Homero, ou a Arte
Poética de Horácio em seus respectivos originais. Chegou à cidade do Rio Pardo no dia 29, desembarcando pelas 6 horas
da tarde. Incansável, sem que os incômodos inerentes à todas as viagens, como
que prostram no abatimento as mais atléticas constituições, lhe fizessem a menor
mossa; quando o corpo deveria estar exigindo descanso e repouso a tanta fadiga,
o Imperador não se descuidou de ir antes de tudo à Matriz, e ajoelhar-se diante
do Rei dos Reis, o Supremo Criador da humanidade. Finda que foi a oração,
passou a visitar os estabelecimentos da cidade: tudo via, tudo examinava, de
tudo inqueria, e a todos penhorava por sua admirável tratabilidade.
No Rio
Pardo teve sua Majestade Imperial notícia de que o major de Voluntários da Pátria
Felício Ribeiro se achava gravemente molesto. Pois bem: dirigiu-se e para logo
à casa deste cidadão, a fim de visita-lo.
Esta
visita é um dos mais notáveis episódios da viagem Imperial à Província de São
Pedro do Sul! Sua Majestade falara ao mencionado major de forma que mais
parecia um irmão dirigindo-se a outro irmão, do que um filho dos Césares a um
seu súdito; e não só falava-lhe, como lhe dirigia frases de consolação,
animava-o, dando-lhe conforto para que pudesse sofrer as dores da moléstia! O
enfermo não tinha expressões com que significasse o seu reconhecimento, estava
confuso diante da majestade bondosa, mas experimentou o benéfico influxo de tão
honrosa visita, e certamente sentiu alívio a seus males... Este procedimento do
Imperador foi verdadeiramente sublime, porque foi verdadeiramente
evangélico!!...
Na
cidade do Rio Pardo passou Sua Majestade Imperial o dia 29 de julho, e
indubitavelmente bem gratas recordações lh’as despertou ele: era aniversário
natalício da Sereníssima Princesa Imperial, a Senhora D. Isabel, que já tinha
regressado da sua viagem à Europa.
No dia
31 partiu para Cachoeira, onde chegou em 1º de agosto.”
REFERÊNCIA:
CRUZ, Gervasio José da. Uma página
memorável da história do reinado do sr. D. Pedro II – Defensor Perpétuo do
Brasil. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1865. Disponível em:
www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handlelid/182902/000017387.pdf?sequence=1.
Acesso em 10/11/2018