terça-feira, 13 de novembro de 2018

D. PEDRO II EM RIO PARDO – 1865 (2)


“Esteve o Monarca até o dia 28 em Porto Alegre, dia em que seguiu para a cidade do Rio Pardo, em cujo trajeto entretinha-se em desenhar diferentes vistas com aquela mesma habilidade e perícia com que traduziria a Ilíada de Homero, ou a Arte Poética de Horácio em seus respectivos originais. Chegou à cidade do Rio Pardo no dia 29, desembarcando pelas 6 horas da tarde. Incansável, sem que os incômodos inerentes à todas as viagens, como que prostram no abatimento as mais atléticas constituições, lhe fizessem a menor mossa; quando o corpo deveria estar exigindo descanso e repouso a tanta fadiga, o Imperador não se descuidou de ir antes de tudo à Matriz, e ajoelhar-se diante do Rei dos Reis, o Supremo Criador da humanidade. Finda que foi a oração, passou a visitar os estabelecimentos da cidade: tudo via, tudo examinava, de tudo inqueria, e a todos penhorava por sua admirável tratabilidade.
No Rio Pardo teve sua Majestade Imperial notícia de que o major de Voluntários da Pátria Felício Ribeiro se achava gravemente molesto. Pois bem: dirigiu-se e para logo à casa deste cidadão, a fim de visita-lo.
Esta visita é um dos mais notáveis episódios da viagem Imperial à Província de São Pedro do Sul! Sua Majestade falara ao mencionado major de forma que mais parecia um irmão dirigindo-se a outro irmão, do que um filho dos Césares a um seu súdito; e não só falava-lhe, como lhe dirigia frases de consolação, animava-o, dando-lhe conforto para que pudesse sofrer as dores da moléstia! O enfermo não tinha expressões com que significasse o seu reconhecimento, estava confuso diante da majestade bondosa, mas experimentou o benéfico influxo de tão honrosa visita, e certamente sentiu alívio a seus males... Este procedimento do Imperador foi verdadeiramente sublime, porque foi verdadeiramente evangélico!!...
Na cidade do Rio Pardo passou Sua Majestade Imperial o dia 29 de julho, e indubitavelmente bem gratas recordações lh’as despertou ele: era aniversário natalício da Sereníssima Princesa Imperial, a Senhora D. Isabel, que já tinha regressado da sua viagem à Europa.
No dia 31 partiu para Cachoeira, onde chegou em 1º de agosto.

REFERÊNCIA:
CRUZ, Gervasio José da. Uma página memorável da história do reinado do sr. D. Pedro II – Defensor Perpétuo do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1865. Disponível em: www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handlelid/182902/000017387.pdf?sequence=1.
Acesso em 10/11/2018

sábado, 10 de novembro de 2018

D. PEDRO II EM RIO PARDO – 1865 (1)


A Guerra do Paraguai aconteceu de dezembro de 1864 a março de 1870. A Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai enfrentou o Paraguai, enfrentando a pretensão de Solano Lopes de conquistar terras na região da Bacia do Prata, para obter uma saída para o Oceano Atlântico. No desenrolar das operações, em 11 de junho de 1865 aconteceu a vitória dos aliados sobre os paraguaios na Batalha do Riachuelo. Mas a comemoração brasileira foi interrompida pela notícia da tomada de São Borja pelos paraguaios, em 12 de junho. A vitória paraguaia ampliou-se com a tomada de Uruguaiana, que foi reconquistada pelos aliados em 18 de setembro[1].
No desenrolar destas operações militares, a “Província do Rio Grande precisava então, mais do que nunca, de união e concórdia: infelizmente achava-se por esse tempo retalhada em partidos que mutuamente se hostilizavam; nossos mais aguerridos e valente generais não se entendiam; e, por outro lado, a presidência da província, segundo a notoriedade pública, testificada pela declaração que na câmara temporária fizeram os Deputados Rio-Grandenses, não oferecia bastantes e seguras garantias para desvanecer essas desinteligências, ou cortar essas dificuldades, o que todavia era urgente se fizesse sem demora, incontinente...
No meio desses acontecimentos, o Brasileiro por excelência, o Magnânimo Senhor D. Pedro Segundo, no seu estremecido amor pelo Brasil, repassava em seu espírito uma ideia grandiosa, ideia que ele tinha assentado realizar, fossem quais fossem os obstáculos, os empecilhos que se lhe pudessem contrapor.
A Província de São Pedro do Sul, dizia a sós consigo o Ínclito Monarca, a bela Província de São Pedro do Sul, está presa do inimigo: ´preciso repeli-lo, e para isto, de antemão preparar todas as coisas. Eu sou Brasileiro, e maldito fosse eu, se, tendo jurado a Constituição do Império, arca santa dos direitos dos meus caros súditos e patrícios, me deixasse conservar entre as delícias e os gozos da Corte, esquecendo os deveres de Defensor Perpétuo do Brasil!!... Não, é preciso que eu parta e partirei.” Ou seja: o Imperador D. Pedro II resolveu “partir para o teatro da guerra”, tentando, com sua presença, desfazer “as tristes dissidências entre irmãos”, naquele momento em que era preciso reagir à invasão do inimigo.
Foi advertido por seus Ministros do perigo a que ia se expor, mas mesmo assim foi irredutível e viajou para o sul no dia 10 de julho. Seguiu com ele o Duque de Saxe, e depois que chegou da Europa, o Conde D’Eu, ambos genros do Imperador.
Depois de passar por Santa Catarina, desembarcou em Rio Grande no dia 16 de julho. No dia 18 embarcou para Porto Alegre, de onde partiu no dia 23 para São Leopoldo e Novo Hamburgo, voltando ainda no mesmo dia a Porto Alegre, onde permaneceu até o dia 28 de julho, quando partiu para Rio Pardo.

REFERÊNCIA:
CRUZ, Gervasio José da. Uma página memorável da história do reinado do sr. D. Pedro II – Defensor Perpétuo do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1865. Disponível em: www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handlelid/182902/000017387.pdf?sequence=1.
Acesso em 10/11/2018











[1] MAESTRI, Mario. Há 150 anos: a invasão paraguaia do RS – 10/6/2015. Disponível em port.pravda.ru/sociedade/cultura/10-06-2015/38843-invasao-paraguaia-o/
Acesso em 10/11/2018


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

DUMINIENSE PARANHOS ANTUNES


Em 6 de Julho de 1908, na cidade de Rio Pardo, nascia Duminiense Paranhos Antunes, filho de Cristiano Carlos Antunes e de Eugênia Paranhos Antunes. Funcionário Público Federal estabeleceu-se em Caxias do Sul onde, além de suas atividades profissionais, se dedicou ao jornalismo, com assídua presença nas colunas de nossos jornais. Destacou-se também como historiador, tendo pesquisado nosso passado e publicado várias obras, dando uma visão global a seu respeito. Além disto, foi poeta. Deixou uma bela família e de seus filhos, no campo literário, notabilizaram-se Helba Maria Antunes e Cristiano Carlos Carpes Antunes. Helba foi poetisa e escritora e faleceu muito jovem. Cristiano foi apreciado cronista social. Entre outras publicações, deixou: um livro de crônicas intitulado AS VÍTIMAS DO VÍCIO; SOMBRAS QUE FICAM, conjunto de poemas; RIO PARDO, CIDADE MONUMENTO; DOCUMENTÁRIO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE CAXIAS DO SUL; CAXIAS DO SUL, A METRÓPOLE DO VINHO, estes três de cunho histórico e, ainda, REMISSÃO, crônicas; RUMO À QUERÊNCIA, contos regionais; QUANDO O AMOR ENGANA, novela; FUGINDO DA FELICIDADE, também novela, e IDÉIAS INUSITADAS, crônicas.

REFERÊNCIA
Programa Radiofônico da Universidade de Caxias do Sul – Mensagem 7.10.1995 – Programa 654 – p. 2286 – Professor Mário Gardelin, da Universidade de Caxias do Sul

terça-feira, 6 de novembro de 2018

ACÂMARA DE VEREADORES E AS CHARQUEADAS



No passado, produzir carne salgada era uma atividade um pouco arriscada para a saúde pública. Não havia recursos técnicos para evitar o apodrecimento de tudo o que sobrava da matéria – prima necessária para fabricar o charque. Assim, sempre que a atividade era exercida na zona urbana, provocava reclamações de quem morava nos arredores.
Em 1847, por exemplo, houve reações contrárias à instalação de uma charqueada no Potreiro de Nossa Senhora do Rosário. Alega-se que “o estabelecimento de charqueada ali só traria peste aos habitantes”. Era normal que houvesse esse tipo de reclamação: os restos de animais usados para produção do charque cheiravam mal, atraia uma quantidade enorme de moscas, e a sujeira tomava conta dos “depósitos” de ossos e sobras não aproveitáveis. As pessoas chamadas a opinar diziam preferir uma olaria, para fabricação de telhas e tijolos, ou a instalação de um estabelecimento agrícola naquele local.
 No livro de registros gerais da Câmara, daquele ano, página 236, lê-se (...) se dignem de dar-me sua informação sobre a inconveniência da charqueada, que Rafael Pinto de Azambuja está formando no potreiro de Nossa Senhora, situado nas adjacências d’esta Cidade”.
 A preocupação da Câmara não se restringia às charqueadas, era mais antiga. Em 1834 já havia a preocupação com “a salubridade pública, abrimento de pontes e ruas e igualmente sobre as charqueadas, que se acham dentro dos limites da VILA”. Havia pretensões de um morador em instalar uma charqueada “ na boca da Rua de Santo Ângelo”.
Os vereadores preocupavam-se também com “os pântanos e podridões nos lugares da Vila" e com a qualidade da água, chegando a nomear comissão que examinasse os lugares onde se poderiam construir fontes que fornecessem água potável para a população.
Observa-se, pela documentação da Câmara, que as atribuições dos vereadores eram muito maiores do que hoje, uma vez que eram eles as autoridades encarregadas de praticamente todos os assuntos relativos à organização da comunidade.  Em relação às charqueadas, era ela o órgão responsável pela concessão de licença para conduzir o gado para os locais de abate, bem como a encarregada de fiscalizar o cumprimento de normas relativas à produção, como aquela que determinava que “os fazendeiros não podiam matar vacas nas charqueadas ou açougues, conforme Régia determinação, podendo ser condenados a pagar multas” se o fizessem.

FONTE: Livros de Registros Gerais da Câmara dos anos 1819/1834/1847 AHMRP