“Como reserva
imprescindível ao sustento da praça havia-se fundado a Estância Real do Bojurú.
Em 1738 contavam-se já nesse estabelecimento, que abrangia larga área de
campos, mais de 1.500 éguas, de 2.000 vacas ‘que já se achavam corridas’, e
mais de 8.000 para completar as 45.000 cabeças de gado que deveria ter a
estância. Era considerável a quantidade de couros que anualmente exportava o
Bojurú, enchendo todas as embarcações que demandavam a barra do Rio Grande. Não
obstante Gomes Freire apostrofá-la de ‘barra diabólica’, dos últimos dias de
Novembro de 1737 aos últimos de 38 ‘por ela haviam entrado 26 embarcações de
vários portos, o que basta para provar a sua bondade’, dizia o Brigadeiro Silva
Pais, em carta de 30 – VII – 1738.
Pelo
Brigadeiro havia sido nomeado Administrador da Estância Real do Bojurú, Cosme
da Silveira e Ávila. Interessante a figura desse aventureiro, tão pouco
conhecido ainda, a quem os historiadores, como também a Cristóvão Pereira, dão
a naturalidade de São Paulo, quando, como este, era português.
Nasceu Cosme
da Silveira na Vila Nova de Tousso, ilha de São Jorge, Açores, sendo filho legítimo
do Capitão-Mor da mesma Vila, Antônio da Silveira e Ávila e de sua mulher
Catarina Machado de Azevedo. Vindo muito moço para o Brasil, depois de
permanecer pouco tempo na Laguna, internou-se nas campanhas rio-grandenses,
dedicando-se, como outros aventureiros, à passagem de gados para aquela vila.
Quando o Brigadeiro Silva Pais penetrou a barra, fundando o Presídio, travou
conhecimento com o tropeiro e apreciou-lhe as qualidades que o distinguiam, a
sua energia e espírito de iniciativa. Organizada a Estância de Bojurú
escolheu-o o Brigadeiro para dirigi-la. Aí fabricou Cosme da Silveira os
primeiros queijos de que mandou amostras muito apreciadas a Silva Pais. André
Ribeiro Coutinho, não estando de acordo com providências tomadas no
estabelecimento pelo Administrador, mandou prender Cosme da Silveira. Este leva
sua queixa ao Brigadeiro que, em expressiva carta, lhe responde dizendo-lhe do
grau de consideração em que o tem (...).
Deve-se também
a Cosme da Silveira os primeiros ensaios da cultura do trigo, com resultados
magníficos. Descontente com o procedimento de Ribeiro Coutinho, deixa o
açoriano a Estância do Bojurú e interna-se pela campanha de Viamão, ocupando
campos com gados que traz dos Pampas e é um dos fundadores daquela capela, em
1747. Quando da penetração para Rio Pardo, onde é também um dos primeiros que
ali se estabelece com estância de criação de animais vacuns, é Cosme da
Silveira encarregado da “Estância do Rincão Del-Rei”, onde se juntam as
cavalhadas reúnas.
Em Rio Pardo,
de que foi um dos fundadores, casou-se com D. Rita Josefa da Silveira, também
açoriana, viúva do Capitão Francisco Machado Fagundes, dos casais povoadores
dessa Vila. Teve Cosme da Silveira duas filhas nascidas no Rio Pardo, Joana e
Inocência. Cosme faleceu ali, com testamento em 1767.”
Referência:
PORTO, Aurélio. Jesuítas no sul do Brasil. História das Missões Orientais do
Uruguai. Segunda Parte. Volume IV. Porto Alegre: Livraria Selbach, 1954. 2 ed.
Revista e Melhorada pelo P. Luís Gonzaga Jaeger, S.J. p. 151-2.
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