quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

COSME DA SILVEIRA E ÁVILA


“Como reserva imprescindível ao sustento da praça havia-se fundado a Estância Real do Bojurú. Em 1738 contavam-se já nesse estabelecimento, que abrangia larga área de campos, mais de 1.500 éguas, de 2.000 vacas ‘que já se achavam corridas’, e mais de 8.000 para completar as 45.000 cabeças de gado que deveria ter a estância. Era considerável a quantidade de couros que anualmente exportava o Bojurú, enchendo todas as embarcações que demandavam a barra do Rio Grande. Não obstante Gomes Freire apostrofá-la de ‘barra diabólica’, dos últimos dias de Novembro de 1737 aos últimos de 38 ‘por ela haviam entrado 26 embarcações de vários portos, o que basta para provar a sua bondade’, dizia o Brigadeiro Silva Pais, em carta de 30 – VII – 1738.
Pelo Brigadeiro havia sido nomeado Administrador da Estância Real do Bojurú, Cosme da Silveira e Ávila. Interessante a figura desse aventureiro, tão pouco conhecido ainda, a quem os historiadores, como também a Cristóvão Pereira, dão a naturalidade de São Paulo, quando, como este, era português.
Nasceu Cosme da Silveira na Vila Nova de Tousso, ilha de São Jorge, Açores, sendo filho legítimo do Capitão-Mor da mesma Vila, Antônio da Silveira e Ávila e de sua mulher Catarina Machado de Azevedo. Vindo muito moço para o Brasil, depois de permanecer pouco tempo na Laguna, internou-se nas campanhas rio-grandenses, dedicando-se, como outros aventureiros, à passagem de gados para aquela vila. Quando o Brigadeiro Silva Pais penetrou a barra, fundando o Presídio, travou conhecimento com o tropeiro e apreciou-lhe as qualidades que o distinguiam, a sua energia e espírito de iniciativa. Organizada a Estância de Bojurú escolheu-o o Brigadeiro para dirigi-la. Aí fabricou Cosme da Silveira os primeiros queijos de que mandou amostras muito apreciadas a Silva Pais. André Ribeiro Coutinho, não estando de acordo com providências tomadas no estabelecimento pelo Administrador, mandou prender Cosme da Silveira. Este leva sua queixa ao Brigadeiro que, em expressiva carta, lhe responde dizendo-lhe do grau de consideração em que o tem (...). 
Deve-se também a Cosme da Silveira os primeiros ensaios da cultura do trigo, com resultados magníficos. Descontente com o procedimento de Ribeiro Coutinho, deixa o açoriano a Estância do Bojurú e interna-se pela campanha de Viamão, ocupando campos com gados que traz dos Pampas e é um dos fundadores daquela capela, em 1747. Quando da penetração para Rio Pardo, onde é também um dos primeiros que ali se estabelece com estância de criação de animais vacuns, é Cosme da Silveira encarregado da “Estância do Rincão Del-Rei”, onde se juntam as cavalhadas reúnas.
Em Rio Pardo, de que foi um dos fundadores, casou-se com D. Rita Josefa da Silveira, também açoriana, viúva do Capitão Francisco Machado Fagundes, dos casais povoadores dessa Vila. Teve Cosme da Silveira duas filhas nascidas no Rio Pardo, Joana e Inocência. Cosme faleceu ali, com testamento em 1767.”


Referência: PORTO, Aurélio. Jesuítas no sul do Brasil. História das Missões Orientais do Uruguai. Segunda Parte. Volume IV. Porto Alegre: Livraria Selbach, 1954. 2 ed. Revista e Melhorada pelo P. Luís Gonzaga Jaeger, S.J. p. 151-2.

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