Lissi Iria Bender
Azambuja
Mestranda do programa
de Mestrado em desenvolvimento Regional da UNISC
O
desenvolvimento só faz sentido dentro de um embasamento histórico porque a
história permite falar, entender as especificidades de cada região. E para
entender a diversidade existente no Vale do Rio Pardo precisamos fazer uma
revisão das causas históricas que promoveram essa realidade dentro de um
contexto mais amplo – o Brasil.
O Brasil
foi descoberto por portugueses em 1500 e por mais de três séculos durou seu
domínio. O primeiro produto a despertar-lhe a atenção foi o pau-brasil, seguido
pela cana-de-açúcar, o tabaco e o algodão. Mais tarde, a partir do século XVII,
o interesse econômico centrou-se na extração de metais preciosos.
Nesse
contexto, o Vale do Rio Pardo, inserido no Sul do País, sem deter atrativos
econômicos imediatos, fica por mais de dois séculos à margem dos interesses
portugueses.
A
integração do Rio Grande do Sul às demais regiões se deu de forma subsidiária e
dependente, em função do gado que havia sido introduzido anteriormente pelos
jesuítas nas Missões. Com a retirada desses, o gado se reproduzia livre e solto
(gado chimarrão), o que suscitou interesses e promoveu a instalação das
primeiras estâncias, iniciando-se assim o processo de ocupação do espaço
rio-grandense.
Para
ocupar o território entre Laguna e Sacramento, que era acirradamente disputado
entre castelhanos e luso-brasileiros, a coroa portuguesa começou nos anos 30 do
século XVIII, a distribuir sesmarias a tropeiros sedentarizados e militares
reformados.
Foi
nesse contexto que teve origem Rio Pardo, com a edificação do Forte Jesus Maria
José, em 1752, firmando-se como base militar, transformada em centro
estratégico para os interesses expansionistas portugueses.
Em 1760
chegam os primeiros açorianos, fruto de uma tentativa portuguesa de colonizar o
território. Mas esses chegam numa época turbulenta, de ruptura do tratado
firmado entre espanhóis e portugueses, e os casais açorianos acabam dispersos
pelo território, inclusive em Rio Pardo, onde se dedicam ao cultivo de trigo
para exportação. Esse empreendimento foi responsável pelo desenvolvimento de
Rio Pardo e promoveu sua importância econômica, destacando o município no
cenário gaúcho da época. Essa trajetória foi interrompida a partir de 1820,
quando os europeus resolveram sua crise na produção de cereais e deixaram de
adquirir grãos produzidos pelos açorianos. Os açorianos voltam-se então para a
produção extensiva de gado.
Rio
Pardo, por sua localização privilegiada junto ao Rio Jacuí, era caminho natural
em direção às missões e por isso fora eleita ponto estratégico pelas forças
portuguesas para desocupar os missioneiros. E sua influência e importância
foram também drasticamente reduzidas com a consolidação das fronteiras
meridionais do Brasil em fins do século XVIII e princípio do século XIX. Assim,
sem a especialização econômica do trigo, e com pecuária apenas extensiva em
regime de latifúndio, Rio Pardo perde rapidamente espaço e influência,
principalmente após a independência em 1822, quando o governo imperial se
empenha para trazer ao Rio Grande trabalhadores europeus, preferencialmente
alemães, que começam a chegar a partir de 1824.
Em 1848
o governo imperial delega às províncias maior participação no processo de
povoamento do País. Desse modo o governo da Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul funda a colônia de Santa Cruz e fomenta a vinda de alemães a
partir de 1849. Esses vieram com suas famílias e aqui receberam pequenos lotes
de terras com o compromisso de cultivá-los em regime familiar, sem utilizar mão
de obra escrava.
É
interessante observar que, entre as diversas etnias vindas ao Rio Grande do
Sul, os alemães foram os únicos que não esperaram pelo governo para que seus
filhos tivessem acesso à escola. Essa vinha antes mesmo da igreja e servia aos
domingos para os ensinamentos do Senhor. O que reflete não somente o valor
atribuído à educação, mas também um grande empenho na preservação de seu
patrimônio cultural ameaçado pelas condições adversas a que foram submetidos.
Em seus
pequenos lotes, os colonos dedicaram-se à policultura e não demorou para
superarem a produção de subsistência. Principalmente o fumo e a banha, no
início, alavancaram o desenvolvimento local. E assim, já em 1878, Santa Cruz
tornou-se município, separando-se de Rio Pardo.
Foi
portanto o êxito da produção colonial que suportou e fomentou o desenvolvimento
da cidade, tanto comercial quanto industrial.
Em 1905
Santa Cruz já estava ligado a Porto Alegre por meio de uma estrada de ferro. Em
1906 já possuía rede elétrica. Também é dessa mesma época a instalação dos
serviços de correio, de telefonia e de distribuição de água potável.
Diferentemente
de Rio Pardo, Santa Cruz teve seu território dividido em pequenos lotes,
ocupados por alemães, que trouxeram consigo uma cultura impregnada pela
dedicação ao trabalho, pelo amor à terra, sem preconceitos em relação ao seu
manuseio, justamente numa época em que fazia parte da tradição cultura
escravista dominante no País a rejeição ao manuseio da terra, ao trabalho
braças, por serem essas atividades consideradas menos dignas, legadas aos
escravos até o final do século XIX.
Desse
modo, com os imigrantes dedicando-se à cultura diversificada, inclusive de
exportação, fomentando o comércio e a indústria, Santa Cruz Havia encontrado um
caminho alternativo para o desenvolvimento, e pôde, desse modo, melhor inserir-se
no contexto nacional, enquanto Rio Pardo manteve sua economia presa ao
latifúndio.
Referência: AZAMBUJA,
Lissi Iria Bender. Diversidade do Vale do Rio Pardo. Jornal Gazeta do Sul,
Santa Cruz do Sul. 22 e 23 de abril de 2000, p. 4.
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