sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A PREOCUPAÇÃO DE UM PROFESSOR COM A EDUCAÇÃO DE SEUS ESCRAVOS LIVRES.


   Os últimos anos do século XIX (1871- 1888) formam um período marcado por profundas transformações econômicas, sociais e políticas, que contribuíram para a construção da história da família negra e escrava, assim como a infância brasileira.
      O projeto da Lei do Ventre Livre foi proposto em 27 de maio de 1871, estipulado que seriam libertos os filhos das escravas que nascessem a partir da data da devida lei. Denominado-os de ingênuos, a lei pretende dispor sobre o tratamento que deviam receber. Cria um fundo de emancipação e dá direito ao escravo de formar um pecúlio.
    Fato curioso aconteceu em Rio Pardo, através de um requerimento enviado por um proprietário de escravos no ano de 1882, que apresentou motivos para que a Câmara de Vereadores o isente do pagamento das despesas provenientes do sepultamento de um ingênuo na sua propriedade. O argumento usado pelo proprietário foi que ele atendia com bom trato e educação aos ingênuos que estavam em sua companhia:...”não tenho em mira o lucro que poderia ter se os alugasse e prefiro pol-os na aula (como estou fazendo) e mandal-os depois para o ofício afim de que algum dia lhes possa servir à pol-os n’uma casa a jornal deixando-os embrutecidos”.
     Ao finalizar, mais uma vez Nogueira surpreende: “Portanto, se nós proprietários, fazermos isto, a Câmara deve ser equitativa dispensando estes emolumentos, a fim de que nós trabalhemos pelo desenvolvimento intelectual dos ingênuos.”
    As atitudes deste proprietário nos interrogam, pois somente indo mais a fundo em seus interesses pessoais poderíamos perceber suas reais intenções. Se tinha pensamentos abolicionistas, tentava através da Câmara chamar a atenção de que era melhor incentivar os proprietários “desenvolvimento intelectual dos ingênuos” preocupando-se com o que iria acontecer com uma sociedade que não saberia das estrutura a estes jovens livres.
FONTES: BAKOS, M. M. RS: Escravismo & Abolição, Mercado Aberto, 1982.
Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo, Códice Geral (CG) 77, pg. 115/16, 1880. Jornal de Rio Pardo, 2007.


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