sexta-feira, 23 de setembro de 2016

24 DE SETEMBRO DE 2016: 156 ANOS DE NASCIMENTO DE ANA AURORA DO AMARAL LISBOA

   Colégio Particular Amaral Lisboa
http://escolaamaral.pbworks.com/w/page/19229534/anaaurora 
                Duas atitudes da jovem Ana Aurora mostraram desde muito cedo o que ela pensava da vida: o voto de pobreza e o trato feito com as irmãs Zamira e Carlota de nunca casarem para poderem se dedicar integralmente à educação.

                Nascida em Rio Pardo, diplomou-se pela Escola Normal de Porto Alegre em 1881. Foi professora pública de 1881 até fundar o Colégio Amaral Lisboa em 1883. Trabalhou por 55 anos, formando três gerações de rio-pardenses. Escreveu poesias, peças teatro, crônicas. Publicou artigos políticos em jornais da época, muitas vezes tratando de assuntos políticos polêmicos. Utilizava os pseudônimos de Aura Lis, José Anselmo e Uma Riograndense. 



DE RIO PARDO AO CERRO DO BOTUCARAÍ


                Sendo a peregrinação demasiado longa, eram indispensáveis três cavalos para a montaria de cada um dos camaradas ou peões (pois fazem serviços extraordinários além da marcha), dois para cada um dos patrões, dois muares para cada cargueiro e a competente égua madrinha[1], sem a qual é certo o extravio de animais durante a noite.
                De um todo prontos, inclusive a matalotagem[2], partimos pelas quatro horas da tarde, com uma grande animalada por diante, apreciando a bela paisagem que se ostenta à direita e à esquerda da vereda, desde a ponte sobre o rio, que dá seu nome à cidade, até os confins missioneiros.
                Passamos a grande várzea, que nas maiores enchentes é quase toda coberta de água na extensão de nove quilômetros. Nessa ocasião, o terreno era seco, facilmente transitável até o Sítio das Moças Velhas.
                Daí começamos a subir uma ladeira de suave declive até o outrora desprezado e baldio passo colonial, adquirido e consideravelmente valorizado pelo operoso industrialista Frederico Hannemann, então o mais aperfeiçoado vinhateiro do Rio Grande do Sul.
                Um pouco mais além, passávamos o Arroio das Pedras, 6 km mais adiante chegamos ao Capão da Cruz Alta, pernoitando na hospitaleira vivenda de Manoel Pinto Lima.
                Caminháramos já 30 quilômetros, desde a cidade de Rio Pardo.
                Ao seguinte dia, passávamos pelas Três Vendas, pela estância do Chico Thimotheo, começando e continuando a avistar, por mais dois dias, mais próximo ou mais afastado, conforme as curvas da estrada, o majestoso Cerro do Botucaraí, notável por sua excepcional posição sobre a encosta da Serra Geral e por ter sido um dos asilos do célebre Monge que primeiro estivera nas Águas Santas do Campestre, localidade que adiante descreveremos.
                Passada a magnífica ponte de pedra sobre o arroio Butucaraí, subimos por uma suave encosta até a modesta fazenda de Manoel José Severo.

REFERÊNCIA
SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Missões Orientais e seus antigos domínios. Porto Alegre: ERUS, 1979. Estante Rio-Grandense União de Seguros. (Primeira Edição: 1909) p. 152-4.



[1] Égua mansa que atrai e mantém os cavalos juntos.
[2] Bagagem.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

ANNA AURORA, professora, poetisa e política

Primeira parte
A MINHA INTERVENÇÃO NA POLITICA
Seja – me permitido, uma vez por todas, esclarecer este ponto,visto como tem sido a minha intervenção na política a causa ou motivo apresentado para justificar todas as denuncias, intrigas e perseguições de que tenho sido victima.
Admittindo que eu tome parte activa na política, o que é falsissimo, não há lei, que eu conheça pelo menos, que vede á mulher este direito; há, sim, o preconceito social do qual sou acérrima defensora de que a missão da mulher deve restringir-se aos deveres do lar.
Quanto a tomar o mais vivo interesse pelo que se passa em sua Patria, pelo desenrolar dos acontecimentos que hão de constituir mais um período da historia dessa Patria, sustento que a mulher que tem alguma instrucção e patriotismo, tem ,não o direito, mas o deverde faze-lo, mórmente quando essa mulher escolheu a missão de educadora da mocidade; para essa então essa então esse dever é imprescindível.
Para que estudamos a HISTORIA? Para que faz parte das matérias do ensino primário o estudo da HISTORIA PATRIA? Não é para desenvolver nas crianças o sentimento do amor à Patria, despertando-lhes a admiração pelas acções patrióticas e pelos grandes vultos da nossa HISTORIA?
Uma pratica uso eu no exercicio do magistério : ao annunciar aos meus alunnos que o dia seguinte é feriado por ser uma data nacional, narro-lhes o facto que essa data commemora, procurando fazer-lhes comprehender a gloria que aos brazileiros advem de tal facto, e dou-lhes muitas vezes este assupto para exercicio de redacção ou de composição.
Se isso é idéas políticas no espírito das creanças, do que tenho sido accusada, confesso aqui publicamente a minha culpa; mas declaro-me peccador impenitente, promptoa recair na mesma falta na primeira opportunidade.
Assim, pois, não approvo( porque o direito não lh’o posso contestar) que a mulher se arvoreem chefe de um partido político, e estarei ao lado dos que a combaterem nesse terreno; mas defendo o direito e sustento o dever que tem a mulher  instruída, principalmente a preceptora, de tomar o mais vivo interesse pelos acontecimentos contemporâneos, como tem o de estudar os acontecimentos passados da HISTORIA PATRIA. Com o mesmo affinco com que consulta differentes auctores afim de descobrir a verdade sobre um facto passado, deve ella investigar a verdade dos factos que se passam no seu tempo.
Demais, não creio que, no momento que atravessa a nossa Patria , haja uma só brazileira, ou pelo menos uma rio-grandense,cujo espírito não seja de todo inculto, (e ainda assim!...) que não intervenha na política, se é intervir na política o interessar-se, apaixonadamente que seja, pelo desdobrar dos acontecimentos. Não fora em tal caso brazileira ou rio-grandense!
Eis qual tem sido e será a minha intervenção na política. E que digam esses mesmos que me accusam d’essa outra intervenção, onde e quando me ouviram elles próprios falar e tratar de política. Em parte alguma e nunca.
Sujeito o meu procedimento e os sentimentos que a elle me impulsionam ao juízo das pessoas illustradas, pois que inutil seria querer fazel-os acceitar por certos espíritos entrincheirados por de traz de emperrados preconceitos.
E, se me permittem, um conselho proveitosissimo áquelles que tanto se preoccupam com a política das mulheres: deixai - as tolejar á vontade e usai sómente, para combatel-as, da arma do ridículo. Dar-lhes a importância de julgal-as inimigos ou adversários temíveis, merecedores de perseguições, é o cumulo do ridículo, mas para o sexo forte, mórmente para os representantes de um partido poderosíssimo.
Sobre este ponto, faço ponto.
OBs.: Texto conforme caligrafia da época.
FONTE: Texto do livro “A MINHA DEFESA DE ANNA AURORA DO AMARAL LISBOA - 1895, PORTO ALEGRE – Officinas typographicas da Livraria Americana – pag. 07 a 09
Arquivo histórico Municipal Rio Pardo


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

RIO PARDO NA ÉPOCA DO BARCO A VAPOR

           Um pequeno barco a vapor, repleto de passageiros, separada a câmara dos homens (servindo simultaneamente de refeitório e dormitório), do pequeno cubículo reservado às senhoras, leitos com quarenta centímetros de largura, travesseiros e colchões duros, despidos de lençóis e coberturas, e isso mesmo não chegando para todos, ficando muitas pessoas de pé ou assentadas em tamboretes durante uma noite inteira, uma profusão de mosquitos, desde o crepúsculo da tarde até o da manhã seguinte, tal foi nosso suplício até desembarcarmos, felizmente cedo, em Rio Pardo.    (...)
           (...) desde a pacificação da Guerra dos Farrapos, que as teve o seu forte e alternado teatro de operações, marchou Rio Pardo para uma tal decadência, que nenhum esforço jamais pôde refrear.
             Ouvimos alguns dos poucos velhos que conseguiram transpor várias décadas após aquele período revolucionário, contar as grandezas da opulenta vila de Rio Pardo, a vida expansiva, a união íntima de seus mais antigos habitantes.
             Eram aparatosas e completas as festas na igreja e fora, com os competentes torneios das cavalhadas. Eram ainda animados os repetidos saraus familiares com as danças do solo inglês, do minuete afandangado, da gaivota, da cachucha e da contradança antiga, desbancada pelas quadrilhas. Eram bem desempenhados os espetáculos teatrais, em que brilharam Felipe Neri, Mello e Albuquerque, Borba e outros jovens amadores, mais tarde chamados para representar papel saliente na política rio-grandense.
             Reinava uma excepcional atividade no comércio. Era este abundante em todos os gêneros, era o fornecedor do município e até da maior parte dos negociantes da companhia e da região serrana. Estes e aqueles vinham aí comprar mercadorias e transportá-las para, lá longe, revendê-las com avultado lucro.
              E todos ganhavam bom dinheiro, as onças de ouro, os patacões formigavam.
              Mas passada aquela crise revolucionária e tristíssima, a opulenta vila deixou de ser um entreposto comercial.
             A navegação fluvial a vapor, a princípio bimensal e por fim quase diária, anulando quase a dos lanchões e canoas, atraindo para Porto Alegre toda a freguesia comercial da companhia e da serra, desferiu profundo golpe no comércio de Rio Pardo.
             A supressão do comando da guarnição e fronteira, a retirada das forças que aí estacionavam, diminuiu-lhe mais de metade da antiga população urbana.
          Apesar de elevada à categoria de cidade, nem por isso cessou, antes progrediu, a sua decadência, chegando ao ponto de serem oferecidas gratuitamente as casas, para não permanecerem desabitadas por meses a anos.
             Entretanto, Rio Pardo possuía ainda alguns homens prestigiosos e destes mais de um foi chamado a ocupar uma cadeira de deputado à Assembléia Geral e à Provincial. Esses homens envidaram o melhor de sua influência, para recuperar o antigo esplendor da cidade, digna de melhor sorte.
‘            Os deputados e senadores rio-grandenses, encontrando no Ministério o Marquês de Caxias, amigo devotado do Rio Grande do Sul, conseguiram fosse criada e inaugurada uma Escola Militar, provida de ilustrado corpo docente. Mas, ao cabo de dois anos, já não sendo ministro aquele titular, foi a Escola removida para Porto Alegre. Trinta e cinco anos mais tarde restituída, não demorou em ser-lhe de novo tirada. Uma outra Escola de Tiro, uma guarnição militar com um batalhão de infantaria, uma grande estação da estrada de ferro, nada disso tem melhorado as condições da cidade, que foi a chave da campanha rio-grandense.
                Habitam-na hoje mais de seis mil almas.
          Mas, apesar dos templos, teatro, hospital de misericórdia, grandes casas particulares, ainda reina quase geral pobreza.
               Era ai que os viajantes da capital para a campanha, para a região serrana, ou vice-versa, iam encontrar meios de transporte; foi aí que os procuramos.

REFERÊNCIA

SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Missões Orientais e seus antigos domínios. Porto Alegre: ERUS, 1979. Estante Rio-Grandense União de Seguros. (Primeira Edição: 1909) p. 151-2.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
6 – PONTE DO RIO PARDO (2ª parte)
* REGISTRO DO OFÍCIO DESTA CÂMARA AO DESEMBARGO DO PAÇO, COMO ABAIXO SE DECLARA.
                Senhor. – A urgentíssima necessidade que há de reedificação da Ponte do rio Pardo, contíguo a esta Vila, e de que há muitos anos esteve este Povo na fruição dele até o tempo em que as inundações das águas a levaram em ocasião que se achava a maior parte dos habitantes deste lugar na Campanha e por cujo motivo a Junta da Real Fazenda desta Capitania por providência aos moradores e viandantes faz rematar aquele Passo faz com que pomos na Real presença de Vossa Alteza as súplicas e oferecimentos que se nos tem feito para o futura da mencionada Ponte tendo primeiramente dirigido os nossos primeiros passos a V.A.R. pela sua Real Junta desta Capitania como consta da cópia número um e pela mesma Real Junta nos foi deliberado o que teve da outra cópia número dois vindo por este modo a continuar os gemidos da pobreza e as faltas que experimenta o público desta dita Vila que borda o mencionado rio enquanto se não efetuam as ditas obras; por cujo motivo suplicamos a V.A.R. haja por bem conceder a licença que imploramos por ser um bem comum e passarem continuadamente as tropas de V.A.R. por aquele lugar ficando desde então sustada a arrematação daquele passo que pela referida Junta da Real Fazenda se fez. – Deus guarde a V.A.R. por muitos anos. – Rio Pardo em Câmara de 13 de fevereiro de 1813 = Manoel Pereira de Carvalho = José da Rosa Fraga = Manoel Veloso Rabelo = Francisco da Silva Bacelar =. E não se continha mais coisa alguma em dito ofício que aqui fielmente registrei do próprio e conferi eu Escrivão da Câmara – Leocádio Máximo de Souza.

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
Respostas aos quesitos formulados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para o fim do Serviço Nacional de Recenseamento.

Documento disponível (cópia carbono datilografada) no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo