domingo, 28 de fevereiro de 2016

UMA PARÓQUIA, DOIS ORAGOS

                “Sabemos, já pelo trabalho desenvolvido até o presente, que foi orago desta Paróquia inicialmente e por muitos anos Santo Ângelo; mais tarde porém, a pedido do povo, como consta do seguinte termo de abertura do 1º livro do Tombo, passou a denominar-se de Nossa Senhora do Rosário: ‘José Antônio da Matta, Vigário da Vara e Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Viamão. Por faculdade que tenho do Exmo. E Rvdmo Senhor D. Frei Antônio do Desterro, Bispo do Rio de Janeiro, para rubricar todos os livros de minha comarca, e as mais que se compreendem nas Igrejas de todo o Continente do Rio Grande, Viamão e Rio Pardo, numerei este com a minha rubrica =Matta=, o qual há de servir de Tombo para se lançar nela todos os bens de Fábrica; e outrossim para também se copiarem todas as Ordens de Sua Exma Rvdma, que se remeterem à Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Rio Pardo, que algum tempo se intitulava Santo Ângelo, cuja mudança fez por Despacho que vi do Exmo e Rvdmo Sr., a instância dos moradores do dito Rio Pardo. – Viamão, 8 de maio de 1769. José Antônio da Matta.’
                Na Capela de Jesus, Maria e José foi celebrado o 1º batismo a 24 de abril de 1755 pelo capelão Frei Faustino de Santo Alberto, o qual por Delegação de D. Frei Antônio do Desterro, de 1756, abriu, numerou, rubricou e encerrou o livro em que já tinha feito assentos antes desta formalidade.
                Embora se venerasse já na Matriz uma pequena imagem de Nossa Senhora do Rosário que existia na (capela) de Santo Ângelo, como consta na mencionada ata, é certo que em 31 de maio de 1769 começou ela a usar exclusivamente do título do novo Orago, por ter sido nesse dia colocado no alto do trono uma grandiosa imagem de Nossa Senhora do Rosário mandada vir da Bahia por Antônio Martins e por intermédio de Custódio José Teixeira, no valor de 65$000 a expensas da Irmandade do SS. Sacramento; e porque o primeiro ano de batismo do 2° livro também celebrado desse dia, começa por estas palavras: ‘Nesta Matriz de Nossa Senhora do Rosário’, e o último do 1º livro por estas: ‘Nesta Matriz de Santo Ângelo...’.
                Até 1769 portanto, em razão de sua origem, denominou-se esta Matriz de Santo Ângelo = Nova Igreja de Santo Ângelo, Nossa Senhora do Rosário – do Quartel de Rio Pardo, Nossa Senhora do Rosário, Capela de Santo Ângelo, como consta dos assentos de batismos, casamentos, óbitos e de outros atos paroquiais.
                A antiga imagem de Nossa Senhora do Rosário, que se conservava na Matriz, foi em 1884 colocada pelo Vigário Vicente Zeferino Dias Lopes num nicho, na sacristia, por não haver lugar em nenhum dos altares.”


BACK, José Renato. Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo – Diocese de Santa Cruz do Sul. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1986. Instituto de Teologia e Ciências Religiosas – Curso de Teologia.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

RIO PARDO
Foi um dos 4 municípios iniciais do Rio Grande do Sul

INVOCAÇÃO: Nossa Senhora do Rosário
INÍCIO DO POVOAMENTO DA SEDE: 1754
CAPELA CURADA: Portaria Eclesiástica de 15 de dezembro de 1762
FREGUESIA: Provisão Eclesiástica de 8 de maio de 1769
VILA E SEDE DO MUNICÍPIO: Provisão de 7 de outubro de 1809
INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO: 20 de maio de 1811
CIDADE: Lei nº 3 de 31 de março de 1846

                Em 1803 o então Governador da Capitania do Rio Grande de São Pedro, Paulo José da Silva Gama, se dirigiu ao Príncipe Regente Dom João fazendo-lhe uma representação na qual se referia aos inconvenientes de não haverem, no extenso território de seu governo, vilas criadas e com o exercício da justiça regulado de maneira a coibir os abusos e impunidades que se verificavam.
                O documento de Paulo Gama reveste-se de elevado valor, pois é o primeiro ato pelo qual se pensa em dividir administrativa e judiciariamente o Rio Grande e constituiria como de fato constituiu, o ponto de partida para a formação dos municípios rio-grandenses.
                Quanto a Rio Pardo, assim se refere: “A Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Rio Pardo deve da mesma forma ser erigida em vila, como cabeça de todo aquele distrito da fronteira do norte, anexando-se lhe todas as suas capelas filiais, e além disso a freguesia de Nossa Senhora da Cachoeira e de Santo Amaro e a de São José de Taquari, parecendo-me muito a propósito que aquela povoação que tem o nome de Rio Pardo, se mude no de vila do Príncipe, criando-lhe igualmente justiça e oficiais competentes, como as outras: monta sua população em 9.509 almas.”
                Este pedido de Paulo Gama foi repetido em 1808 e, somente em 7 de outubro de 1809 foi assinada pelo Príncipe Regente a Provisão objeto das comemorações e desta Sessão eu o Sr. Prefeito Municipal, houve por bem oficializar durante a semana de 4 a 7 deste mês através do Decreto nº 134 de 26 de setembro de 1974.
                Rio Pardo como Posto Militar avançado de singular importância teve início com a chegada da primeira Guarda Portuguesa em 1754, logo transformada na Fortaleza Jesus Maria José em torno da qual teve origem o núcleo populacional.
                Com a Fortaleza foi erigida a primeira Capela dedicada à Sagrada Família (Jesus Maria José),  com o seu acentuado desenvolvimento uma outra igreja sob a invocação de Santo Ângelo que era o padroeiro dos Dragões, foi erigida no local onde hoje é a Igreja do Senhor dos Passos.
                Poucos anos depois, por instâncias da população, foi mudada a invocação para Nossa Senhora do Rosário, desde 8 de maio de 1769, emancipando-se como Capela Curada, da Freguesia de Triunfo.
                A atual Matriz teve origem dez anos após e logo se tornando pequena, o povo erigiu a atual em 1801.
                A evolução eclesiástica de Rio Pardo, paralela ao seu importante desenvolvimento militar e econômico, teve, assim, considerável ascensão: capela sujeita à freguesia de Triunfo, desde 1756 até 1762, quando elevou-se a Capela Curada e emancipou-se. Elevada a Freguesia em 8 de maio de 1769, tomou, desde esta data a nova invocação de Nossa Senhora do Rosário, até hoje sob a sua proteção 205 anos passados.
               

Texto escrito por Biagio Tarantino, provavelmente em 1974.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

                                      Ernesto Alves de Oliveira
 Ernesto Alves de Oliveira nasceu em 21 de abril de 1862, em Rio Pardo, filho de Manoel Alves de Oliveira e Rafaela Azambuja de Oliveira. Em 1883, formou-se em Direito pela faculdade de São Paulo, onde pregou com entusiasmo os ideais republicanos. Exerceu em seguida advocacia em Porto Alegre.  Fez a vida jornalística e em abril de 1888 assumiu a direção do diário “A Federação”, importante jornal e de atuação decisiva na vida política do estado, pregando a ideologia republicana. Foi diretor da Instrução Pública do Estado. E em 1891, o Rio Grande do Sul o elegeu Deputado a Assembleia Constituinte Federal. Ernesto Alves destacou-se ainda como um dos maiores oradores de sua geração.   Faleceu muito jovem, com vinte e nove anos, em agosto de 1891, em Porto Alegre. 

Fonte

ANTUNES, Duminiense Paranhos. Rio Pardo,” Cidade Monumento”. Porto Alegre: Livraria do Globo.1946 p. 129

Reportagem do Jornal de Rio Pardo no ano de 2003.

Fontes usadas se encontram disponíveis no Arquivo Histórico Municipal Biágio Soares Tarantino em Rio Pardo,RS.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

                                                     CASA DE ERNESTO ALVES
Bem cultural de interesse público, que passou a integrar o PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL do Município, inscrito no livro tombo conforme lei nº 1029 de 25/05/2000, do Plano Diretor do Município e arrolada no inventário do Patrimônio Cultural do Rio Grande do Sul.
Imóvel Rural, residencial, unifamiliar, edificação do tipo casa térrea com características tipológicas estruturais do período colonial português, com paredes auto portantes, esta construção é anterior ao século XVIII. De sua planta original, a residência teve um acréscimo de três dormitórios, sala e banho, e a área de serviço composta por varanda e cozinha, com área construída de 317,73 m².

Sua construção em alicerce de pedras irregulares, paredes de tijolos, e paredes de pedras, com argamassa, barro e cal, aberturas da época, janelas envidraçadas com folhas de seguranças, com verga, ombreira e peitoril em madeira, portas de madeiras tipo duas folhas com verga reta e ombreira em madeira. Apresenta em seu conjunto algumas alterações resultantes de intervenções sofridas em épocas anteriores, revestimentos com mudanças de pisos e forros, na varanda a colocação de piso de cerâmica, existem dois sanitários sendo que um foi conservado o estilo colonial com a colocação de pedra basalto polida no piso, azulejo simples, forro em madeira tipo macho fêmea com pintura fosca, portas e janelas conservadas, colocação de instalações hidráulicas e elétricas. A cobertura da edificação em duas águas, constitui-se em recobrimento de telhas portuguesas antigas do tipo cana canal, assentadas sobre tesoura de madeira, caibros em madeira roliça e ripas em madeira (substituídas no final da década de 80, do século XX).

UM PIONEIRO

                A recente publicação de “A arte de vinificar, de beber e de analisar vinhos”, de autoria de Ernesto Cataluña Veses, patrocinada pela Companhia Vinícola Rio-Grandense, ao ensejo de seu cinqüentenário, ocorrido a 5 de junho de 1979, veio oferecer oportunidade a que se relembre o nome do introdutor da viticultura no Rio Grande do Sul.
                Não sendo historiador, mas enologista, por sinal dos mais competentes, o autor atribui a iniciativa da viticultura, entre nós, a Tomaz Master, que a teria implantado na ilha dos Marinheiros, próxima à cidade de Rio Grande, em 1840. Sabe-se, entretanto, que a produção de uvas e sua vinificação tiveram início em Rio Pardo, antes mesmo de 1808, ano da chegada de D. João ao Brasil, quando só então permitiu-se a instalação de “fábricas de qualquer gênero ou qualidade” na antiga Colônia.
                Nestas condições, Rio Pardo não só foi o berço da viticultura, como também da vinicultura no Rio Grande do Sul. E o nosso primeiro vitivinicultor chamava-se Manoel de Macedo Brum da Silveira, um açoriano, natural da ilha do Pico. Além de pioneiro nessa atividade e, posteriormente, grande estancieiro e fundador de tradicional estirpe gaúcha, também foi o primeiro capitão-mor da Vila de Rio Pardo.
                As referências históricas anteriores, dando notícias de que a parreira chegara ao Rio Grande do Sul na bagagem das primeiras levas açorianas, ainda no século XVIII, não retiram de Manoel de Macedo os méritos de seu pioneirismo, pois só deram lugar a culturas que, além de destituídas de substância econômica, não foram reconhecidas oficialmente, nem figuram na bibliografia conhecida sobre a matéria, desde Gonçalves Chaves até Florêncio de Abreu.
                As atividades de Manoel de Macedo, como vitivinicultor, foram legalizadas através de provisão baixada pelo então Príncipe Regente, a 11 de março de 1813. Nesse documento se reconhece ter sido ele               “o primeiro a formar vinhas e fabricar vinho branco e tinto”, na Capitania do Rio Grande de São Pedro. Afirma-se, ainda, no alvará que então lhe foi concedido, que “não havia essa cultura” no território rio-grandense.
                Por sua vez, Antônio José Gonçalves Chaves, nas suas fundamentais “Memórias Ecônomo-Políticas”, o primeiro livro sobre economia rio-grandense, publicado em 1822 e reeditado no ano passado por benemérita iniciativa da Companhia União de Seguros Gerais, destaca a atuação de Manoel Macedo como pioneiro da cultura de videiras e produção de vinho, mencionando a quantidade de barris em que o produto era comercializado.
                A colocação de Rio Pardo como berço da vitivinicultura rio-grandense e a contribuição de Manoel de Macedo nessa realização pioneira foram estabelecidas pelo historiador Paulo Xavier, em pesquisa original, publicada na edição de 4 de julho de 1959 do Correio do Povo.
                Aliás, não se pode escrever a história econômica do nosso estado sem recorrer aos trabalhos que Paulo Xavier vem divulgando, há alguns anos, notadamente no “Suplemento Rural” daquele matutino. Elaborados sempre em cima da melhor documentação, em geral recolhida dos arquivos em primeira mão, seria do maior interesse que esses trabalhos fossem agrupados por assunto e publicados numa série de volumes, pois constituem – convém repetir – subsídios indispensáveis para o estudo da formação econômica rio-grandense, sobretudo no setor agropastoril, sua industrialização e comercialização.
                Como ainda não se tomou iniciativa tão necessária quanto inadiável, Paulo Xavier continua sendo um “autor sem livros”, conforme já tive ocasião de observar, noutra oportunidade. A esta singularidade ele reúne a de ser o mais operoso e fidedigno pesquisador da economia rural do Rio Grande do Sul. É dos poucos historiadores que, em lugar de recorrer às fontes bibliográficas existentes, vai diretamente aos documentos, inovando e enriquecendo o acervo da historiografia rio-grandense, como o fez em relação ao primeiro capítulo da história da vitivinicultura no Rio Grande do Sul, obra de um pioneiro da velha colonização açoriana, é bom não esquecer.
(Setembro, 1979)”

FONTE:

REVERBEL, Carlos. Saudações aftosas. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1980. p. 31-2.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

RIO PARDO NA VISÃO DE NICOLAU DREYS

                O francês Nicolau Dreys (1781 – 1843) chegou ao Brasil em 1817, estabelecendo-se no comércio do Rio de Janeiro. Em dezembro mudou-se para Porto Alegre, onde permaneceu até 1825. Sobre suas experiências no Rio Grande do Sul, escreveu o “Notícia descritiva...”, publicado originalmente em 1839. A obra aborda o período da Revolução Farroupilha, com descrição do meio geográfico, dos núcleos urbanos, da população, destacando o caráter e os costumes dos habitantes, com amplas informações sobre a economia.
                Transcrevemos o que registrou sobre Rio Pardo.
                “Mais antiga e muito tempo rival de Porto Alegre, a vila de Rio Pardo ainda é, depois da capital, o mais considerável ponto habitado da parte setentrional da província; levanta-se na margem esquerda do Jacuí, no ângulo formado pela junção do Rio Pardo, que desce das alturas contíguas, ao Norte, com a Serra Geral. O terreno em que está edificada a vila, é um outeiro argiloso, cuja sumidade nivela-se com a margem esquerda do Jacuí, inclinando-se gradualmente a Oeste até o vale, bastante escavado, em que corre o Rio Pardo; da parte de Este, seguindo o curso do Jacuí, o declive é quase insensível, e da parte do Norte a planura comunica-se com uma cadeia de outeiros que se dirige para a Serra Geral.
                Para quem navega pelo Jacuí, a vila fica escondida; vêem-se somente duas ou três casas insignificantes na encosta do rio, pelas quais o viajante longe está de adivinhar que ali existe uma grande povoação; precisa caminhar 400 a 500 braças (880 a 1.100 m) antes de chegar à vista dos edifícios; são eles bastante numerosos; alguns apresentam-se com construção moderna, e geralmente o aspecto de todo dá imediatamente a idéia de uma vila importante; a rua de Santo Anjo, aberta sobre uma linha quase perpendicular ao Jacuí, quando a maior parte das outras corre paralelamente  a ele não deixaria certamente de aformosear qualquer das grandes cidades do Brasil: ela forma, por sua disposição particular, como um bairro separado, onde residem os principais negociantes em proporções com a população do país; pode-se dizer que o comércio é florescente, ou pelo menos assim estava, antes que a guerra levasse ali o luto e a desolação.
                A vila do Rio Pardo está longe de desfrutar a fartura que se observa em Porto Alegre; os trabalhos agrícolas de seus próprios cidadãos, ou de seus vizinhos satisfazem uma parte de suas precisões, mas em geral ela recebe de Porto Alegre, além das fazendas e de todos os mais produtos da indústria européia, os víveres, que lhe faltam, maiormente os vinhos, os espíritos, os açúcares, e todos os mais gêneros alimentícios que o território não fornece, menos talvez por falta de propriedade, do que por insuficiência de trabalhadores; o trânsito dos objetos importados efetua-se pelo rio Jacuí, por meio de canoas bastante grandes, e às vezes maiores que alguns dos iates que navegam no Rio Grande e nas Lagoas. As mesmas embarcações carregam, na volta, os efeitos, com os quais Rio Pardo paga uma parte das importações, e entre eles figura a erva mate geralmente de boa qualidade, verdadeira congonha, procedida, como já o temos notado, da mesma serrania que produz a erva do Paraguai. Todavia, essa navegação, que é sem perigo, não é sem inconvenientes, sendo o maior deles a necessária lentidão com que a canoa navega na ida para o Rio Pardo, obrigada, como está, a vencer a correnteza do rio, agarrando-se penosamente os marinheiros, quando lhes falta o vento, às árvores que crescem pelas margens, e isso quando a navegação é praticável, o que, segundo nossas indicações antecedentes, não acontece em toda a extensão do ano por causa da seca que deixa surgir as cachoeiras acima do nível das águas; nestas ocasiões a navegação fica reduzida a algumas canoas pequenas de voga, as quais andam mais ligeiras, com menos dificuldades, mas cuja capacidade não chega, às vezes, para livrar totalmente o Rio Pardo de privações momentâneas.
                As expedições de Porto Alegre para o Rio Pardo são tanto mais importantes, que a vila de Rio Pardo é uma espécie de depósito, donde as fazendas seguem para as povoações mais afastadas ao Sul e a Oeste, a navegação cessa ordinariamente, e em todos os tempos, para as canoas de carga, no Rio Pardo e daí continuo o transporte por terra até o Ibicuí-Guaçu, e mesmo até o Arapeí de um lado, e até o Uruguai de outro lado, por meio de carros grandes puxados por três, quatro e mais juntas de bois. É desse modo, e por esse caminho, que penetram no vasto território das Missões quase todas as fazendas, gêneros comestíveis e líquidos, que ali se consomem; é de presumir que uma parte dos mesmos efeitos se ponham em concorrência pelo Uruguai: podem, há de ser forçosamente uma quantidade muito diminuta, vista a extraordinária dilatação da viagem e as despesas consecutivas a quem tem de ocorrer o importador.”


DREYS, Nicolau. Notícia descritiva da província do Rio Grande de São Pedro do Sul. 4. 4d. Porto Alegre: Nova Dimensão/EDIPUCRS, 1990. p. 9-10; 70-71.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

MUNICÍPIO DE RIO PARDO (FINAL)

ESTUDO POLITICO-SOCIAL
                A instrução pública e particular é constituída por um colégio elementar e por 51 escolas, com uma matrícula de 1.838 alunos.
                Na cidade de Rio Pardo publicaram-se os seguintes jornais: Correio de Rio Pardo, Luctador, Patriota, Pátria, Diabo a Quatro, Bohemio, O Furão, O Curinga, Rio Pardo, Isagoge, 1º de Março, O Rio Pardo, Incentivo, Rosicler, O Município, O Commercial, O Orvalho, O Luctador, A Propaganda, O Futuro, Alvorada, O Incondito, A Orientação, A Evolução. Atualmente não se publica nenhum jornal.
                Na cidade de Rio Pardo funcionam os clubes Literário e Recreativo (com biblioteca), Açucena e das Sempre Vivas, Sociedade Beneficente 24 de Julho. O Clube Literário e Recreativo foi fundado no ano de 1883. Foi em seu seio que germinou a célebre questão militar, da qual foi chefe o saudoso Senna Madureira, então pertencente ao referido Clube.
               
SEDE MUNICIPAL
                A cidade de Rio Pardo, sede do município e da comarca, está situada à margem esquerda do rio Jacuí e junto à foz do rio Pardo. Conta as seguintes ruas: Andrade Neves, 15 de Novembro, Senhor dos Passos, Alegria, Esperança, São João, São Sebastião, Matheus Simões, Dr. Azambuja, General Osório, General Auto, Julio de Castilhos, 14 de Julho, 20 de Setembro, São Francisco, Oriente, Matriz, Rosário, 9 de Março, General Câmara, Praia, Moinhos de Vento, Joaquim Lisboa, Carvalhinho, Boa Vista, 13 de Maio; as praças: da Ponte, Marechal Floriano, Joaquim Lisboa, 15 de Novembro, São Francisco.
                Em 31 de dezembro de 1911 a cidade contava 485 prédios e 3.063 habitantes. Atualmente possui 500 prédios e 3.700 habitantes. Os seus principais edifícios são: Igreja Matriz, um dos mais belos templos católicos do Estado e onde repousam os restos do intrépido Barão  do Triunfo; Igrejas de São Francisco de Assis, Senhor dos Passos, Intendência Municipal, Colégio Elementar Ernesto Alves, Clube Recreativo e Literário, Hospital dos Passos (servindo de quartel militar), Colégio Amaral Lisboa, estação da estrada de Ferro. Conta estação telegráfica, agência do correio e centro telefônico.

PEQUENOS POVOADOS
                Fazem parte do município mais os seguintes povoados: João Rodrigues, junto à estação de mesmo nome; Couto, junto à estação da via férrea; São Nicolau, com a capela de seu nome e onde se realiza a tradicional festa de seu orago; Rincão Del Rei, na linha férrea que vai a Santa Cruz e com templo católico; Passo do Sobrado, com capela católica; Cruz Alta, sede de distrito; Capivari, sede de distrito e onde vai ser construída a capela de São João Batista; Rincão do Inferno, com capela católica; Boa Vista, nas imediações e com capela de Santo Amaro.
                Todos esses povoados apresentam aspecto risonho, notando-se que a sua população aumenta, dia a dia. Em torno aos templos cristãos – as capelinhas – aglomeram-se a multidão dos povoadores, e os traços fundamentais, ou basilares dos grandes núcleos humanos do futuro se desenham, em perspectivas claras. O povo desses lugares é muito dado ao culto católico, sendo que a festa de São Nicolau, a que acima fazemos alusão, foi sempre das mais concorridas e apreciadas.
                Município dos mais legendários do Estado, com um passado que tem lances épicos, berço e túmulo de heróis, Rio Pardo ocupa, inquestionavelmente, lugar de grande relevo na história sul-rio-grandense.

FREDERICO ERNESTO WUNDERLICH – Industrialista rio-pardense, proprietário da usina elétrica que fornece a luz pública e particular da cidade. A usina possui duas máquinas com a força de 120 cavalos, dois dínamos de 150 amp. Cada um e bateria de acumuladores. Junto à usina possui também um engenho de beneficiar arroz, movido a eletricidade. Pode preparar 100 sacos por dia. O capital invertido em prédios, usina e engenho é de 300:000$000.

FREDERICO TOELZER & CIA – Firma proprietária de uma fábrica de refinar banha, estabelecida em Candelária, em edifício próprio e movida a vapor. A produção é de cerca de 6.000 caixas anuais, acondicionada em latas de 1 a 20 quilos e que levam as marcas registradas “Cysne” e “Germania”. O produto da fábrica, já premiado com medalhas de ouro, é exportado para várias praças do Brasil, fazendo um movimento de vendas de 300 a 400:000&000 por ano. São sócios da firma os senhores C. Torres & Cia., de Porto Alegre, e Frederico Goelzer, sob cuja direção está a fábrica.

FONTE:

COSTA, Alfredo R. da (org.). O Rio Grande do Sul (II Volume). Município de Rio Pardo. Porto Alegre: Liv. do Globo, 1922.     
 p. 73-8.