segunda-feira, 28 de julho de 2025

QUILOMBO ARROIO DAS PEDRAS

O açoriano Jorge de Souza foi um dos primeiros povoadores do Arroio das Pedras. Seu filho, Antonio de Souza Nunes, herdou a propriedade e foi um fazendeiro laborioso, que orientava seus escravos para a religião. A filha de Antonio, Jacinta Ana Maria Jesus de Souza, herdou as terras e seguiu o exemplo paterno estimulando a prática cristã entre seus escravos. Mas foi além, pois também concedeu alforria a todos eles e deixou-lhes parte de suas terras sem seu testamento, para que tivessem condições de sobreviver. Para estimular a religiosidade, Jacinta mandara fixar uma grande cruz de madeira nas terras doadas a seus ex-escravos, onde eram rezadas missas. Após a sua morte, seus ex-escravos construíram ali uma pequena capela que denominaram Capela Nossa Senhora Imaculada Conceição da Bela Cruz e o lugar passou a ser conhecido como Rincão dos Negros. Porém os habitantes do Rincão dos Negros tiveram ainda de lutar por suas terras, enfrentando vários conflitos com proprietários brancos que se instalaram na região. Em 2004, o Rincão dos Pretos foi reconhecido oficialmente como quilombo pela Fundação Cultural Palmares, confirmando a doação das terras doadas por Jacinta Ana Maria de Jesus de Souza aos seus 87 escravos no século XIX. FONTES: KRAMER, Érica (diretora geral). DVD Cultura Rural: Cultura nos Quilombos. Produzido por Arte Digital Vídeo. Porto Alegre: 2006. Disponível em https://www.riopardo.rs.gov.br/portal/noticias/0/3/1164/quilombo-bela-cruz OLIVEIRA, Evaristo Alves de - Jornal de Rio Pardo, 20/5/1954 – Edição especial comemorativa do 66º Aniversário da Abolição da Escravatura https://www.riopardo.rs.gov.br/portal/noticias/0/3/1256/Quilombo-Rincao-dos-Negros-e-Homenageado-Pela-Secretaria-Municipal-de-Educacao-de-Rio-Pardo. Pesquisa realizada pela profª. Silvia Wigner de Barros.

TELEGRAMA - MOVIMENTO NA CAPITAL DA REPÚBLICA

Movimento Subversivo de Caráter Integralista. O Governo do Estado recebeu do Palácio do Cadete às duas horas da madrugada de hoje por intermédio do Diretor Regional dos telégrafos a comunicação que irrompera na capital da Republica um movimento subversivo de caráter Integralista. Do fato tiveram imediato conhecimento as autoridades civis e militares sendo tomadas todas as medidas reclamadas pela situação. No edifício dos correios e telégrafos estiveram reunidas até as seis horas da manhã o Sr. Interventor Interino, o Sr. Ministro das Relações exteriores , senhores secretários de Estado o Sr. Comandante da Brigada Militar o Sr. Chefe de Policia e o Sr. Diretor Regional dos Correios e Telégrafos onde em ligação direta com o Sr. General comandante da Região mantiveram constante comunicação com o Palácio do Cadete e chefia de Policia do Distrito Federal local em que se achava desde os primeiros momentos o Sr. Coronel Cordeiro de Farias Interventor Federal neste Estado . A ordem foi completamente restabelecida ao amanhecer, restando inalterado no resto do país. Cumpre realçar a atitude de S. Exa. o Sr. Presidente da Republica, que mais uma vez deu aos brasileiros exemplo de bravura e inconfundível valor pessoal . Transmito vos os seguintes despachos telegráficos que relatam em seus detalhes o que foi a brutal e indigna aventura desses transviados do dever cívico e da honra pessoal bi pontos aspas Rio 11/ 5/ 38 Urgentíssimo Dr. Maurício Cardoso Porto Alegre pt. Há uma hora de verificou-se ataque Palácio Guanabara, arsenal de Marinha e algumas outros pontos por grupos Integralistas armados metralhadoras, Força Guarda Palacio desapareceu ficando Presidente Getúlio apenas com a família, Cel. Benjamim Vargas, Walter Sarmento e Tenente Serafim Vargas. Pelo Telefone Presidente poude comunicar autoridades achar se Palacio cercado e recebendo forte fuzilaria. Armados de revolveres mantiveram se defensivos até que coronel cordeiro de Farias nosso digno Interventor, avisado do ocorrido, organizou na policia especial, contingente vinte praças e marchou para Palacio onde penetrou sem que necessário fosse dar um tiro prendendo cerca quarenta rebeldes. General Dutra procurou comparecer, mas recebeu ferimento leve produzido por granada de mão. Casa General Goes Monteiro foi cercada. Oficial Chefe Gabinete Ministro Guerra foi preso de surpresa em sua residência e levado em automóvel conseguindo livrar se seus detentores. Forças do exército e Marinha estiveram ao lado governo sufocando o ataque. Presidente Getúlio está cercado grande numero amigos que lhe levaram parabéns pela resistência calma, pois S. Ex. esteve nas escadarias do Palácio com os demais companheiros armado de revolver para resistir a investida contra as portas do Palácio. Procurei Cel. Cordeiro e estive com Presidente Getúlio o qual narrou-me a atuação brilhante e eficiente Interventor Rio Grandense cuja calma, coragem e decisão foram elogiadas por S. Exa. Tudo está normalizado e em perfeito calma voltando a tranqüilidade pública e o trafego de bondes e ônibus já se faz normalmente. Os acontecimentos citados deram se com tal rapidez que a população somente ao despertar esta manhã deles teve conhecimento ( assinado) Otacilio Pereira , Diretor Geral Viação Férrea pt. Outra circular Interventor Rio Grande do Sul P.Alegre Comunicado da Secretaria da presidente Republica Cipontos elementos Integralistas tentaram esta madrugada um golpe de força assaltando o Palácio Guanabara e o arsenal da Marinha. Ao mesmo tempo grupos isolados percorriam cidade lançando granadas com intuito provocar pânico população . Outros em numero mais ou menos cincoenta homens ocupavam de surpresa armados metralhadoras e granadas corpo guarda aquele Palácio . Tentaram logo depois localizados pelo parque penetrar recinto Palácio não conseguindo diante resistência oferecida. Interior residência presidencial estavam apenas Presidente Getúlio Vargas e pessoas família além poucos homens segurança pessoal. Palácio foi desde logo isolado pelos assaltantes. Defesa improvisada com escassos elementos tinha frente próprio Presidente que empunhava resolver. Imediatamente forças tomaram posição prendendo assaltantes quais resitiram havendo mortes. Arsenal Marinha foi logo depois retomado corpo fuzileiros navais efetuando se muitas prisões. Nova Intentona Integralista assumindo caráter atentado pessoal causou profunda indignação e por isso grande foi a massa de pessoas que ocorreu Palácio Guanabara restão presos vários elementos destacados Integralissimo. Notícias todo pais completa calma. (Assinado) Luiz Vergara secretário Presidência. Foram daqui transmitidos seguintes telegramas bi pontos Dr. Getúlio Vargas Presidente República Rio. Enviamos vossencia? Irrestrita, solidariedade ante violência atentado elementos Integralistas cuja ação nefasta visa destruição ordem legal. Rio Grande inteiro apóia e aplaude vossencia neste momento decisivo . Congratulamo-nos vossencia ter saído ileso criminoso atentado pt. Sauds. Caros. (assinado) J. Maurício Cardoso, Walter Jobim J. P. Coelho de Souza, Oscar Fontoura, Eduardo Marques Borges da Fonseca. Outros Cel. Cordeiro Farias Rio. Congratulamo-nos vossencia vitoria Governo pt. Rio Grande unisons repele conspiração Integralista estando vigilante manutenção ordem legal pt. Enviamos Presidente Congratulações irrestrito apoio extensivo vossencia pt. Sauds. Mauricio Cardoso Walter Jobim J.P. Coelho de Souza Oscar Fontoura Eduardo Marques Borges da Fonseca. Atts. Fonte:CG 230,pg.291a 403,1938.AHMRP

terça-feira, 8 de julho de 2025

RESTAURANTE SEU DOMINGOS UM NOVO EMPRENDIMENTO

Casa onde foi o antigo Sobrado dos Panatieri.Local onde D Pedro II, se hospedou em 1865, quando pela 2ª vez veio a Rio Pardo.
UM NOVO EMPRENDIMENTO Rio Pardo conta com mais um novo emprendimento. Um restaurante, em um ponto Central da cidade. Local onde foi arrumado, consertado com uma estrutura nova, mas conservando seu traços iniciais, pois é um prédio arrolado e histórico.

ENCHENTE DE EM RIO PARDO EM 2025

Em 2025, no mes de junho, mais uma vez fomos acometidos por temporais que prejudicaram moradores de áreas ribeirinhas. Em Rio Pardo, muitas pessoas sofreram por terem suas casas alagadas novamente. Choveu poucos dias mas como nossos rios estão assoriados e encheram em 3 dias e transbordaram.

terça-feira, 1 de julho de 2025

PRIMEIRA ATA DA CÂMARA MUNICIPAL DE RIO PARDO

Termo de Vereança Aos vinte Hum dias do mes de Mayo de mil outo centos , e onze annos nesta nova Villa do Rio Pardo em as casas da Camara da mesma onde se achava o Doutor Ouvidor Geral da Comarca Antonio Monteiro da Rocha com os Juizes, emais oficiaes da Camara para se prover sobre o bem publico. Acordarão que se fizesse a proposta a Junta da Real Fazenda de tres pessoas para Tesoureiros da Casas. Elegerão para Escrivão do Sello ao Tabellião Antonio Simõis Pereira e para Tesoureiro a Manoel Jose Ferreira de Faria e se procedeu na Eleição, e para dos Almotaces para servirem no presente anno. E por nada mais haver que Prover mandou fazer este termo em que assignou presidente, juizes, e mais Oficaes da Camara Guilherme Ferreira de Abreu Escrivão da Ouvidoria da Comarca o escrevi. Rocha, Leal, Guimarães, Abreu, Souza, Rebello, Cunha Fonte: LACM nº 01 1811/18 Arquivo Histórico Rio Pardo 19/05/2025.

CARTAS ANONIMAS Ana Aurora

Cartas Anônimas Causará estranheza o titulo deste e mais de um leitor perguntará admirado como ouso eu tratar de um assunto tão delicado, tão escabroso! É que a sociedade esconde sob o manto de suas convenções muita chaga cancerosa que é preciso cauterizar, e para isso necessário é pólas a descoberto, que não deve recear fazer quem tem por alvo o bem da mesma sociedade. Quem poderá bem calcular o mal que uma carta anônima pode produzir? Quantas uniões dissolvidas, quantas reputações manchadas, quantas famílias desunidas, quantas vinganças injustas, não tem causado uma carta destas? Pois o que é uma carta anônima? É o germem da dúvida e da desconfiança que se vai inocular no coração até então crente e confiante; é a semente da discórdia que vai desunir os membros da mais unida e pacífica família; é a ideia da vingança que levanta o braço armado do ferro homicida; e tudo isso, porem é mais ainda: é o escoadouro por onde as almas baixas e vis deixam extravasar os seus sentimentos indignos: é uma coisa tão imunda que só pode achar outra que lhe ganhe: - o ente sem dignidade que a forjou. Se a serenidade de espírito daquele que recebe uma carta anônima não fosse logo perturbada pela surpresa; se a indignação lhe permitisse raciocinar com calma, nada devia merecer-lhe mais desprezo, pois a lógica demonstrar-lhe-ia que tal coisa só poderia provir da mais indigna das criaturas. Na verdade, enquanto restar no homem um átomo do que se chama de sentimento de dignidade, ele não lançara mão de tão ignóbil meio para consecução de um fim seja ele qual for. Se é um amigo que deseja avisar, a amizade ensinar-lhe-á o caminho reto da fraqueza e da lealdade; se é   um inimigo a quem deseja ferir; a honra exigirá que o ataque a peito descoberto. Pode-se afirmar sem receio que o autor de uma carta anônima é infalivelmente um miserável corrido pela lepra moral da inveja. Não há, nem entre os animais mais vis, um termo de comparação que caracterize bem a abjeção aos seus sentimentos de inveja; compará-lo a um cão leproso, como tenho ouvido comparar, seria ofender o pobre animal, símbolo de lealdade de repelente doença de lepra, não nos engana e podemos afastar-nos dele a fim de evitar o seu contato. Outro tanto não sucede, com o invejoso de que nos ocupamos: a lepra que o corroi fica oculta, e a sociedade, em cujo seio ele é um elemento deletério, o recebe com prazer e suas próprias vitimas o acolhem com confiança, ignorando o que lhe devem! Quantas vezes, apertando a mão de alguém, não dirá cinicamente consigo mesmo o infame detractor: -“ Ah! Se este soubesse da verdade, em lugar de estender a mão para apertar a minha, ergue-la-ia, armada de um chicote para fustigar-me a cara!” E, confinado no mistério em que envolve seus ataques, mas cobarde mil vezes do que o salteador que se acoberta com a sombra da noite para roubar o inerme transeunte, o miserável invejo, cônscio da sua impunidade, afronta com audácia a sociedade, que o expulsaria indignada de seu seio se, suspeitasse a verdade! Anna Aurora Rio Pardo, 24 de julho de 1894 CARTA DO JORNAL O PATRIOTA RIO PARDO

terça-feira, 24 de junho de 2025

JOÃO CÂNDIDO "O ALMIRANTE NEGRO"

João Cândido, o Almirante Negro, nasceu em Encruzilhada do Sul, no dia 24 de junho de 1880, numa choupana onde viviam seus pais escravos, João Cândido e sua mulher Inácia Felisberto. Na fazenda de João Felipe Corrêa. Mesmo com a abolição da escravatura em 1888, a família continuou a trabalhar e morar na fazenda. Anos depois vieram morar em Rio Pardo, com a família do Almirante Alexandrino de Alencar. Aos 13 anos fez sua primeira viagem como aprendiz de marinheiro com Almirante Alexandrino de Alencar, foi quem alistou-o, no Arsenal de Guerra do Exército, aos 14 anos de idade. No ano de 1896, presta serviço na tripulação do Andrada. Aos 20 anos foi instrutor de aprendizes de marinha viajando pelo Brasil. Navegou também pela Inglaterra, África, Europa e Américas e conviveu com marinheiros de todas as partes e lugares, da Marinha de Guerra. Em 1900 foi alçado à condição de marinheiro de 1ª classe. A revolta da Chibata, liderada pelo João Cândido iniciou em 1910, entre os marinheiros, contra os castigos corporais, maus tratos (uso da Chibata), a baixa remuneração, pouca alimentação e o excesso de trabalho. Inicialmente houve a tentativa de negociação pacífica com as autoridades, mas não houve acertos entre as suas reivindicações. Os maus tratos e chibatadas continuaram entre seus colegas foi então que 2.300 marinheiros dominaram quatro navios de guerra, liderados por João Cândido, exigindo o fim das torturas e tratamento digno e humano. A vida na Marinha de Guerra era um verdadeiro castigo. Os castigos eram de forma autoritária e opressiva. Houve mortes e feridos. João Cândido foi preso, com seus companheiros marinheiros muitos foram exonerados e mortos. Começava o momento mais difícil da revoltada Chibata. Ficaram incomunicáveis no quartel General do Exército. Alguns companheiros, entre eles João Cândido, foram jogados numa masmorra na Ilha das Cobras. Muitos morreram de maneira barbara, ao reclamaram de falta de água e ganharam pás de cal virgem no corpo e chão. Alguns foram assassinados, fuzilados outros foram recolhidos aos presídios e por último João Cândido foi colocado em uma Prisão Solitária, junto com outros colegas de luta onde muitos morreram corroídos pela cal em suas carnes. “Tínhamos a impressão que estávamos sendo cozinhados dentro de um caldeirão”. Foram momentos terríveis as vezes tomando sua própria urina de sede. Não aguentávamos mais, gritamos, mas nada abafaram pelo ruflar dos tambores, o silencio foi aumentando e os gemidos diminuindo. Brasileiros sem ter seus direitos garantidos pela constituição. Quando abriram a solitária tinha gente caída, morta e podre, só sobreviveu um colega e João Cândido que em seguida foi para outra prisão. O médico Guilherme Ferreira foi chamado pelas mortes ocorridas na solitária, mas se negou a fornecer atestado por morte natural. João Cândido saiu da cadeia só quando deu entrada no Hospital como doido, delinquente. Depois de um tempo voltou a realidade, voltando para a cadeia. João Cândido jamais ostentou pompas de comandante. Dirigiu movimento com humildade de simples marinheiro.”Sabia navegar e dirigir um navio, não precisou de escolas para aprender a viajar por capitais europeias e a manobrar navios com habilidade milagrosa”. Não se desfez de seus conceitos que sempre guiaram suas ações. Em 1912, o Conselho de Guerra julgou os revoltosos e os absolveu unanimem-te. O Almirante Negro, pela primeira vez chorou após seu longo martírio, pela emoção. Depois de dezenove anos servindo a Marinha, João Cândido saiu da prisão que nem um trapo. Tuberculoso, sem saber dos seus oito irmãos. Sem trabalho, sem família e doente encontrou um carpinteiro o Sr. Freitas que o ajudou a reiniciar sua vida. Casou com Marieta, na igreja da Glória. Foi comandante por duas vezes, mas não continuou e acabou sendo despedido e perseguido. Acabou sendo apenas um marinheiro da beira de Cais. Terminou sua vida com muitas dificuldades, vendendo peixes no cais. Em 06 de dezembro de 1969, João Cândido, faleceu no Rio de Janeiro, com câncer já algum tempo, foi enterrado no cemitério do Caju.   FONTE: Dante Layano pg 253/4, Uma luz para a história do Rio Grande , Rio Pardo 200 anos pg113, A Revolta dos Marinheiros:1910, pg 21/2/3, 60,1986. João Cândido, Paulo Ricardo de Moraes pg 35,...,46,62