quarta-feira, 1 de novembro de 2017

QUARTEL DE RIO PARDO

Em 1803 o Quartel de Rio Pardo tinha sob sua responsabilidade “os acontecimentos de uma vasta parte do Rio Grande”, era um órgão fiscalizador e mantenedor da ordem. Os problemas desta administração iam além das atribuições militares e enfrentavam inúmeros problemas, como a demora na entrega de cartas e ofícios, que retardavam ou impediam o cumprimento de determinações oficiais, afinal eram extensões enormes a serem vencidas. No Quartel, faltavam desde o alimento até fardas, munições e armas.
Além disto era preciso superar desde a falta de material para os trabalhos de olaria e serraria até   grandes enchentes que impediam a circulação de pessoas e cumprimento de ordens oficiais. Era difícil conseguir quem se encarregasse de transportar farinha para as Missões e para os postos avançados e faltava tudo, carne, farinha, ferramentas, panelas, mantimentos, arreios, espadas, couro, lençóis, colchões e cobertas até para o hospital militar. A fome entre os soldados das Missões era comum, escravos fugiam, ladrões de cavalos e gado assolavam os campos. Os soldos atrasavam, soldados se revoltavam ou desertavam.
Em 1804 tantas dificuldades já haviam feito surgir em Rio Pardo serrarias, olarias e caieiras, que vendiam seus produtos para as construções necessárias, como a reedificação do Hospital Militar.
Tropas espanholas e índios vagueavam pelos campos, causando conflitos e estado permanente de alerta para os militares encarregados de defender as terras conquistadas, encarregados de coibir o contrabando e vigiar o gado. O clima era de violência e insegurança e persistiam os problemas de desabastecimento: continuavam faltando munição, armas, alimentos, roupas.
Os chefes militares tinham atribuições além de suas funções regulares: “se lhes incumbiam providências variadíssimas, até em matéria de exportação e importação.” (LAYTANO, 1949, p. 20).
No ano de 1806 um ofício do Tenente-Coronel Patrício Correia da Câmara, comandante da fronteira, em Rio Pardo, mostra a interferência militar inclusive nos assuntos religiosos, ao tratar “sobre a criação da Ordem Terceira da Penitência e construção de uma capela do Senhor dos Passos; desavença dos irmãos da Ordem com os protetores da dita capela; os irmãos resolvem construir uma capela-mor”. Nesta época o Quartel do Rio Pardo intervinha na região missioneira, em territórios do atual Uruguai, em assuntos militares, econômicos e religiosos.
Os problemas do comando do Quartel se multiplicavam: captura de uma mulher casada, de um índio que assassinara um menino, atritos entre oficiais do Quartel, atraso e violação de correspondências oficiais: uma enorme anarquia entre as forças sediadas no Rio Grande do Sul! E o Quartel de Rio Pardo acabava sendo impotente para resolver os problemas devido, principalmente, às grandes distâncias. E tudo isto se somava aos problemas corriqueiros do Quartel: falta de condições para promover os necessários exercícios de cavalaria, falta de pagamento dos soldos, problemas com gêneros para alimentar as tropas, carência de operários e soldados técnicos, falta até de fardamento.
E ainda era preciso controlar os povoadores da fronteira, que abandonavam seus estabelecimentos e gado; rebelião de índios; comércio ilícito; mortes e prisões de índios por oficiais portugueses; captura de escravos fugitivos; penetração de forças espanholas e portuguesas em territórios contrários. A insegurança era alarmante.
No ano seguinte o Quartel ainda teve de administrar o extenso território e mais a fronteira castelhana, diante da eminência de uma guerra entre Portugal e França aliada à Espanha. Faltavam oficiais no Quartel, o contrabando e os furtos eram freqüentes, faltavam cavalas e espadas e o armamento disponível era precário. E esta situação ainda permaneceu por algum tempo, apesar de já ter sido criada administrativamente a Vila de Rio Pardo.

REFERÊNCIA
LAYTANO, Dante de. O quartel de Rio Pardo, Regimento de Dragões e conquista das Missões. Pequena memória de história militar capitaria[1]. 1807 – 1819. Porto Alegre: separata dos Anais da Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1949. 31 páginas.






[1] Imposto, que se paga por cabeça. (http://www.dicionarioweb.com.br/capita%C3%A7%C3%A3o/); impor capitação (exigir imposto). (http://www.dicionarioinformal.com.br/capitar/

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