Em 1803
o Quartel de Rio Pardo tinha sob sua responsabilidade “os acontecimentos de uma
vasta parte do Rio Grande”, era um órgão fiscalizador e mantenedor da ordem. Os
problemas desta administração iam além das atribuições militares e enfrentavam
inúmeros problemas, como a demora na entrega de cartas e ofícios, que
retardavam ou impediam o cumprimento de determinações oficiais, afinal eram
extensões enormes a serem vencidas. No Quartel, faltavam desde o alimento até
fardas, munições e armas.
Além
disto era preciso superar desde a falta de material para os trabalhos de olaria
e serraria até grandes enchentes que impediam a circulação
de pessoas e cumprimento de ordens oficiais. Era difícil conseguir quem se
encarregasse de transportar farinha para as Missões e para os postos avançados
e faltava tudo, carne, farinha, ferramentas, panelas, mantimentos, arreios,
espadas, couro, lençóis, colchões e cobertas até para o hospital militar. A fome
entre os soldados das Missões era comum, escravos fugiam, ladrões de cavalos e
gado assolavam os campos. Os soldos atrasavam, soldados se revoltavam ou
desertavam.
Em 1804
tantas dificuldades já haviam feito surgir em Rio Pardo serrarias, olarias e
caieiras, que vendiam seus produtos para as construções necessárias, como a
reedificação do Hospital Militar.
Tropas
espanholas e índios vagueavam pelos campos, causando conflitos e estado
permanente de alerta para os militares encarregados de defender as terras
conquistadas, encarregados de coibir o contrabando e vigiar o gado. O clima era
de violência e insegurança e persistiam os problemas de desabastecimento:
continuavam faltando munição, armas, alimentos, roupas.
Os
chefes militares tinham atribuições além de suas funções regulares: “se lhes
incumbiam providências variadíssimas, até em matéria de exportação e
importação.” (LAYTANO, 1949, p. 20).
No ano
de 1806 um ofício do Tenente-Coronel Patrício Correia da Câmara, comandante da fronteira, em Rio Pardo,
mostra a interferência militar inclusive nos assuntos religiosos, ao tratar “sobre
a criação da Ordem Terceira da Penitência e construção de uma capela do Senhor
dos Passos; desavença dos irmãos da Ordem com os protetores da dita capela; os
irmãos resolvem construir uma capela-mor”. Nesta época o Quartel do Rio Pardo
intervinha na região missioneira, em territórios do atual Uruguai, em assuntos
militares, econômicos e religiosos.
Os problemas do comando do Quartel
se multiplicavam: captura de uma mulher casada, de um índio que assassinara um
menino, atritos entre oficiais do Quartel, atraso e violação de
correspondências oficiais: uma enorme anarquia entre as forças sediadas no Rio
Grande do Sul! E o Quartel de Rio Pardo acabava sendo impotente para resolver
os problemas devido, principalmente, às grandes distâncias. E tudo isto se
somava aos problemas corriqueiros do Quartel: falta de condições para promover
os necessários exercícios de cavalaria, falta de pagamento dos soldos,
problemas com gêneros para alimentar as tropas, carência de operários e
soldados técnicos, falta até de fardamento.
E ainda era
preciso controlar os povoadores da fronteira, que abandonavam seus
estabelecimentos e gado; rebelião de índios; comércio ilícito; mortes e prisões
de índios por oficiais portugueses; captura de escravos fugitivos; penetração
de forças espanholas e portuguesas em territórios contrários. A insegurança era
alarmante.
No ano seguinte
o Quartel ainda teve de administrar o extenso território e mais a fronteira
castelhana, diante da eminência de uma guerra entre Portugal e França aliada à
Espanha. Faltavam oficiais no Quartel, o contrabando e os furtos eram
freqüentes, faltavam cavalas e espadas e o armamento disponível era precário. E
esta situação ainda permaneceu por algum tempo, apesar de já ter sido criada
administrativamente a Vila de Rio Pardo.
REFERÊNCIA
LAYTANO, Dante de. O
quartel de Rio Pardo, Regimento de Dragões e conquista das Missões. Pequena
memória de história militar capitaria[1].
1807 – 1819. Porto Alegre: separata dos Anais da Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, 1949. 31 páginas.
[1]
Imposto, que se paga por cabeça. (http://www.dicionarioweb.com.br/capita%C3%A7%C3%A3o/);
impor capitação (exigir imposto). (http://www.dicionarioinformal.com.br/capitar/)
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