segunda-feira, 11 de março de 2024

COMUNIDADE LEMBRA CONQUISTA HISTÓRICA



 A Aldeia de São Nicolau, a sete quilômetros do centro de Rio Pardo, festeja neste domingo um marco histórico para a comunidade negra do município. Há cem anos um grupo 24 famílias se uniu para comprar uma área de terra de 27 hectares atrás da igreja e do cemitério. Cada um contribuiu com o que pode e mais tarde os lotes da colônia foram distribuídos de forma proporcional à participação das pessoas. A propriedade ainda pertence a descendentes.
O s festejos começam às 16 horas com uma concentração comunitária no local conhecido como figueiras, próximo a igreja de São Nicolau, seguindo com uma caminhada pelas ruas do aldeamento, no Bairro Ramiz Galvão. O Bispo dom Gílio  Felício, primeiro negro no Estado a receber a ordenação  e hoje atuando em Salvador (BA), preside a celebração Afro defronte ao templo às 17 horas . As comemorações se encerram à noite com um jantar no pavilhão comunitário.
  A ideia da celebração começou após a descoberta de documentos de compra e venda da terra, que estavam em posse de Debaldina  e Marta Romana, descendentes do grupo que participou da negociação . Os papéis têm a data de 5 de janeiro de 1901, mas a professora Leonete Romano Domingues explica que a decisão de fazer a comemoração neste fim de semana se deve a proximidade com a data consagrada ao Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro).
Leonete é uma das descendentes de famílias que participaram da compra das terras.  Ela segue as pesquisas para obter mais dados e busca a ajuda de outras pessoas.  As primeiras informações ela coletou por meio de depoimentos de familiares do grupo que participou da compra. “É muito difícil encontrar algo, pois até há pouco tempo os próprios negros evitavam falar sobre o seu passado”, diz.
 UNIÃO: A professora observa que chama a atenção o fato de que a comunidade negra na época possuía uma organização e se preocupava com o coletivo. “Pelo documento, ninguém poderia vender as terras, apenas mantê-las para seu usufruto”, conta.  Nos primeiros documentos não consta o total pago pela área, mas numa escritura posterior aparece o valor de dois contos e 600 mil réis. O documento não previa a área de terra para cada família e a divisão ocorreu de forma verbal.
Na comunidade se tornaram conhecidas as balaieiras, as mulheres dos negros que iam até a cidade carregando verduras e frutas na cabeça para a comercialização. Leonete conta que quando faltava algo na produção em suas terras, as famílias compravam na localidade vizinha de Rincão Del Rey para vender à população urbana. Muitos na cidade ainda lembram-se das mulheres pelas ruas, com sua forma de andar para equilibrar o balaio na cabeça, as mãos para baixo, trazendo produtos frescos para a cidade. A tradição se estendeu em Rio Pardo até meados da década de 70.
A ex- diretora do Instituto Ernesto Alves, de Rio Pardo, e uma das fundadoras da Escola de Samba Embaixadores do Ritmo, Luíza Costa Ferreira, já falecida, compôs uma música homenageando as balaieiras da Aldeia. As mulheres negras que carregavam produtos na cabeça também foram várias vezes lembradas nos desfiles de carnaval da cidade.
Por causa das dificuldades de água, em época de estiagem, as mulheres também seguiam a pé com cestas de roupa na cabeça para lavar no Arroio do Couto, a 45 minutos da Aldeia. A água para abastecer as famílias em época de estiagem o grupo buscava numa fonte próxima, também carregando na cabeça. Da mesma forma levavam a lenha que obtinham no mato, amarrando a carga com cipós.

FONTE: Gazeta do Sul, 10/11/2001. Otto Tesche




ASILO SÃO VICENTE DE PAULO

Em 1931, iniciou o sonho do Sr. Pascal Reina. Inspirado pelo amor ao próximo sentiu a necessidade de auxiliar os idosos carentes que viviam nesta cidade, desamparados sem ter um lugar para terminar os seus dias. Como membros da Conferência da Sociedade de São Vicente de Paulo juntamente com outros Vicentinos resolveram construir uma casa para abrigar os idosos necessitados. Surgiu então o Asilo São Vicente de Paulo, uma entidade filantrópica, com sede a Rua Coronel Francisco Alves, 277, Bairro Fortaleza. Difícil foi o trabalho dos Vicentinos principalmente do seu presidente Sr. Pascal, que não mediu esforços para a realização do seu Sonho. Fonte: Texto conforme informações do Blog do Asilo São Vicente de Paulo

JACINTHA SOUZA

Trecho de um documento escrito entre 1866 A 1878, por Evaristo Alves de Oliveira. “A casa de D. Jacintha está situada no Distrito do Arroio das Pedras, distante oito milhas da cidade de Rio Pardo, sendo fundada por Jorge de Souza, que era natural da Ilha dos Açores. Foi hum dos primeiros povoadores deste districto como o forão Matheus Simões, e João Pereira Fortes, que, guiados pela religião bem entendida lhe servião de bussola no labor da vida domestica, como invariaveis costumes a todas as reformas sociais, e por isso deixarão sanzonados frutos dessas famílias, que formam o pedestal desta Provincia; e que não invejarão aos actuaes Colonos, porque occuparão se simultaneamente na lavoura, na vida pastoril, e em expelir os bugres, e hespanhoes, onde hoje está plantado o pavilhão brasileiro. Antonio de Souza Nunes, filho de Jorge de Souza era lavrador laborioso, e fazendeiro, e guiava seus escravos desde a idade infantil no ensino religioso, na lavoura, e na vida pastoril, e ao mesmo tempo como se devião portar para com os seus superiores, fazendo sempre essa pratica, por isso sua filha D. Jacintha tirou o fruto benéfico desse resultado, que, vivendo n’uma casa de campo exolada, foi sempre obedecida por elles, e respeitada pelas forças beligerantes dos LEGAIS, e REPUBLICANOS por espaço de dez anos da revolução nesta Provincia. Hua força republicana de tres mil homens ali estivera acampada mais de um mês, defronte de sua casa, e não só a respeitavam, como a seus fâmulos. Os officiais, e generaes diambos os partidos lhes offerecião proteção por escrito, para que as forças sob suas influencias a respeitassem, e não fizessem o menor insulto em sua casa, mas ella recusava a todos esses offerecimentos, por que o seu partido era a caridade, curando, e cuidando aos doentes, e dar de comer a quem chegasse a sua casa com fome, sem attender a partido algum, e assim foi venerada, e respeitada por todo as as pessoas que alli chegavão.” NOTA DA REDAÇÃO – É evidente que se trata da Revolução Farroupilha (1835-1845). Possivelmente é a mesma força que a 30-4-1838, depois de atravessar o Rio Pardo e ali abrir picadas, de Rincão Del Rei a Aldeia de São Nicolau, surpreendeu as forças legalistas em Rio Pardo, enfrentando-as e derrotando-as, no célebre combate de Barro Vermelho. FONTE: Jornal de Rio Pardo – 20 de maio de 1954. Edição Especial Comemorativa do 66º aniversário da abolição da escravatura (4 folhas).

quarta-feira, 6 de março de 2024

Homenagem | Dia Internacional da Mulher

Rio Pardo foi local de grandes personalidades, pessoas que se destacaram pelo bem comum. Envolvidas nos meios políticos, na área médica, se dedicando a cuidar da saúde do povo, assim como pessoas da comunidade, sem títulos ou honrarias. Podemos levantar aqui diversos nomes, entre eles o Dr. Pedro Alexandrino de Borba (conhecido como o pai dos pobres), Dra. Rita Lobato (1ª mulher vereadora em Rio Pardo e no Rio Grande do Sul), Jardelina dos Santos Bandeira (influente ativista da comunidade negra em Rio Pardo). Entre tantos outros que poderíamos citar, vamos trazer o de uma mulher muito especial, corajosa, destemida e ao mesmo tempo perseguida pelos seus contemporâneos, pois, conforme já relataram à mesma, não deveria “deixar o lar doméstico, para vir intrometer-se em política. Com tanto cultivo de inteligência não pensais que a mulher, principalmente a solteira, e sem pai não deve arrojar-se a vir provocar homens? Não pensais que a mulher deve em todo o tempo dar-se ao respeito? Para ser respeitada? (...). Ao não se calar, em uma época de costumes rígidos de uma sociedade extremamente machista, Ana Aurora do Amaral Lisboa representou a força da mulher, merecedora de ser lembrada no Dia Internacional da Mulher. Mulher de fibra, inteligente e culta, formou-se na capital, como aluna destaque por suas excelentes qualidades. Logo veio trabalhar como a 1ª mulher formada em Rio Pardo, sendo destacada para atuar como regente para a classe masculina no distrito do Couto, no Passo de João Rodrigues, interior de Rio Pardo. Sua nomeação ocorreu na data de 28 de junho de 1883, conforme consta em documento do Arquivo Histórico de Rio Pardo (em anexo), em Ata do Passo da Câmara Municipal da cidade de Rio Pardo. Fonte: Livro de Atas do Passo da Câmara Municipal da cidade de Rio Pardo (1880 a 1885 - Nº 14 - Pg. 128). Texto de Márcio Beyer